Como criar bicho-da-seda
O fio produzido pelo bicho-da-seda é matéria-prima para a indústria e pode trazer renda complementar à propriedade.
Casulos do inseto prontos para serem enviados às fiações
Prestes a passar por metamorfose e se transformar em mariposa, a lagarta, com dotes de artesã, tece em volta de si mesma um casulo de proteção. Feito de fibra leve e suave, o esconderijo descartado pelo inseto torna-se matéria-prima para a fabricação da seda, um dos tecidos mais valorizados na indústria da moda. Com uma pequena estrutura e dedicação, o produtor pode fazer desse processo natural um negócio rentável para a propriedade rural.
Conhecida como sericicultura, a criação do bicho-da-seda (Bombyx mori L.) é uma prática antiga – já era usada há 4 mil anos na China Imperial para a obtenção das vestimentas utilizadas pelos membros da nobreza. A atividade foi também uma das primeiras a ganhar impulso no Brasil após a chegada da família real portuguesa, no início do século XIX.
Mais recentemente, no entanto, tem enfrentado dificuldades com a desvalorização do dólar. A indústria têxtil, o principal destino para o fio de seda, tem perdido competitividade nas exportações. De outro lado, há a entrada mais agressiva de produtos chineses, acirrando a concorrência no mercado nacional – que, por sua vez, patina com os altos custos internos. Porém, com as medidas de intervenção do governo federal para aliviar a perda de valor da moeda norte-americana, a expectativa é de um cenário mais positivo para os setores que dependem do fluxo de remessas ao exterior. Além disso, instituições científicas têm mantido pesquisas para aprimorar a produtividade da sericicultura, atividade que ainda tem como vantagens baixo investimento inicial, retorno rápido e rendimentos mensais no período de safra (de outubro a maio).
Recomendada para a agricultura familiar, a criação do bicho-da-seda tem polos de exploração principalmente nos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, que concentraram uma produção de 4.439 toneladas de casulos verdes na safra 2009/2010.
Manejo do bicho-da-seda
O manejo do bicho-da-seda é realizado em galpões conhecidos como sirgarias. Nas três semanas em que vive como lagarta – período em que passa por cinco etapas –, ele é alimentado exclusivamente com folhas de amoreira (Morus spp.). O produtor recebe o inseto com sete dias (quando passa pelas chamadas primeira e segunda idades) e depois o cria por um período de 19 a 20 dias (terceira, quarta e quinta idades), quando então começa o encasulamento.
Quando deixa de comer as folhas, o bicho-da-seda já atingiu cerca de oito centímetros e está pronto para ser acomodado em um suporte para encasular. Os criadores recebem pelo quilo do casulo de qualidade cerca de R$ 7.
Raio X
- Criação mínima: 5.000 metros quadrados
- Custo: a caixa com 33 mil lagartas custa R$ 61,88; para parceiros em sistema integrado, sai a R$ 54,39
- Retorno: no segundo ano após a produção regular de casulos
- Reprodução: cada mariposa gera de 400 a 500 ovos
Mãos à obra
Início
Para quem não tem experiência, a dica é começar com lagartas com cerca de 1,5 centímetro, tamanho que corresponde à terceira idade do inseto. Há no mercado uma empresa que fornece insetos e infraestrutura para a criação, de materiais para limpeza do local de trabalho e mudas de amoreira a serviços de assistência técnica para apoiar o desenvolvimento da atividade.
Ambiente
Mantenha a sirgaria higienizada, ventilada e com temperatura local de acordo com as fases de vida das lagartas. Recomenda-se entre 26 e 27 graus Celsius (°C) e umidade relativa do ar a 90% na primeira e segunda idades, durante os primeiros sete dias de vida do bicho-da-seda. No desenvolvimento da terceira, quarta e quinta idades, a indicação é de temperatura de 25 a 27 °C e umidade relativa em torno de 75%.
Sirgaria
Numa área de nove metros de comprimento por seis metros de largura, é possível produzir, durante o período de safra, 70 quilos de casulo por mês, quantidade adequada para uma renda complementar para a propriedade. Em uma exploração comercial, o indicado é contar com um galpão de 60 metros de comprimento, oito metros de largura e três metros de altura, com capacidade para produzir de 500 a 550 quilos de casulo por mês. Para o manejo do bicho-da-seda, são necessárias esteiras, ou camas de criação, além do bosque, como é chamado o suporte no qual o inseto tece o fio.
Alimentação
O alimento das lagartas são folhas de amoreira, cuja capacidade de produção pode se estender por entre 15 e 18 anos. Forneça ao bicho-da-seda as folhas frescas e limpas colhidas diariamente.
Amoreira
Cultivares produtivas e de alto valor nutritivo podem ser obtidas na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Polo Apta Centro-Oeste, e na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Gália, SP. São recomendadas as cultivares IZ, FM e Korin, que apresentam produção média de folhas de 20 toneladas por hectare ao ano. Plante a amoreira em linhas e pelo método de estacas. O espaçamento mais comum é de dois metros por 0,5 metro para fornecimento à criação do bicho-da-seda. Em seis meses, pode-se começar a colheita das primeiras folhas. Por ser rústica, a planta não demanda muitos cuidados, mas assegure-se de que ela tenha um desenvolvimento saudável, livre de pragas, doenças e impurezas.
Reprodução
Do acasalamento entre mariposas adultas, que são originadas da metamorfose da lagarta, a fêmea da espécie pode gerar de 400 a 500 ovos por postura.