Xintoísmo
O Xintoísmo (em japonês: 神道, transl. Shintō) é uma espiritualidade tradicional do Japão e dos japoneses, considerada também uma religião pelos estudiosos ocidentais. A palavra Shinto ("Caminho dos deuses") foi adotada no chinês escrito (神道), através da combinação de dois kanji: "shin" (神), que significa "deuses" ou "espíritos" (derivado da palavra chinesa shen); e "tō" (道), que significa "caminho filosófico" ou "estudo" (versão da palavra chinesa tao). Termos como yamato-kotoba (大和言葉) e Kami no michi (神の道) são usados de maneira semelhante, apresentando significados próximos.
O xintoísmo incorpora práticas espirituais derivadas de diversas tradições pré-históricas japonesas, locais e regionais, porém não surgiu como uma instituição religiosa formalmente centralizada até a chegada do budismo, confucionismo e taoismo ao país, a partir do século VI. O budismo gradualmente se adaptou, no Japão, à espiritualidade nativa, incluindo o conceito de kami no panteão budista, tratando-o como parte dos bodisatvas (bosatsu). As práticas xintoístas foram documentadas pela primeira vez nos registros históricos do Kojiki e Nihon Shoki, nos séculos VII e VIII. Ainda assim, esses primeiros escritos japoneses não se referem a uma "religião xintoísta" unificada, mas sim a práticas associadas às colheitas e outros eventos dos clãs, relacionados às estações do ano. Tais práticas eram aliadas a uma cosmogonia e mitologia unicamente japonesas, que combinavam tradições espirituais dos clãs ascendentes do Japão arcaico, principalmente das culturas Yamato e Izumo.
O xintoísmo caracteriza-se pelo culto à natureza e aos antepassados, sendo politeísta, com forte ênfase na pureza espiritual. Uma de suas práticas consiste em honrar e celebrar a existência de kami (神), que pode ser definido como "espírito", "essência" ou "divindades". Os kami são associados a múltiplos formatos compreendidos pelos fiéis; em alguns casos, têm uma forma humana, em outros são animísticos, e em outros casos estão relacionados a forças mais abstratas e naturais do mundo (montanhas, rios, relâmpagos, vento, ondas, árvores, rochas). Considerados como energias e elementos "sagrados", os kami e as pessoas não são separados, coexistindo no mesmo mundo e compartilhando sua complexidade inter-relacionada.
O xintoísmo moderno possui uma autoridade teológica central, porém não tem uma teocracia única. Atualmente, consiste em uma associação inclusiva de santuários locais, regionais e nacionais, com diferentes níveis de importância e história, que expressam suas crenças através de práticas e idiomas semelhantes, datando dos períodos Nara e Heian.
O xintoísmo atualmente conta com cerca de 119 milhões de seguidores no Japão, embora qualquer pessoa que pratique algum tipo de ritual xintoísta seja contada como adepta. A ampla maioria dos japoneses participa de algum ritual xintoísta, mesmo que muitos também pratiquem o culto budista aos ancestrais. Diferentemente de muitas práticas religiosas monoteístas, o xintoísmo e o budismo transmitido no Japão não exigem que os seguidores se identifiquem exclusivamente como crentes ou praticantes, o que torna difícil quantificar adeptos com base em autoidentificação. Em razão da natureza sincrética das duas religiões, a maioria dos eventos relacionados à "vida" são realizados através de rituais xintoístas, enquanto eventos ligados à "morte" e à "vida após a morte" são orientados pela tradição budista (embora essa não seja uma regra rígida). Assim, é comum, no Japão, registrar uma criança ou celebrar seu nascimento em um templo xintoísta, enquanto os preparativos para um funeral seguem as tradições budistas.
Existem santuários xintoístas em diversos países, incluindo Estados Unidos, Brasil, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Países Baixos, entre outros. A religião está em expansão para se tornar uma prática global, especialmente com o surgimento de ramos internacionais de santuários.