O Papel da Escultura na Sociedade Romana
Roma foi uma sociedade eminentemente visual. Com a maior parte de sua população analfabeta e incapaz até de compreender o latim erudito que circulava entre a elite, as artes visuais funcionaram como uma espécie de língua franca acessível a todos, confirmando ideologias e divulgando a imagem de personalidades eminentes. Nesse contexto, a escultura desfrutou de uma posição privilegiada, ocupando todos os espaços públicos e privados e povoando as cidades com inumeráveis exemplos em várias técnicas. Boa parte da escultura produzida em Roma pertence à esfera religiosa ou a ela está relacionada de alguma forma. Até mesmo os retratos tinham frequentemente associações com o sagrado, e assim como em todas as culturas, Roma não divergiu na prática de produzir imagens propriamente de culto, que estavam presentes nos grandes templos públicos até nas mais modestas das habitações. Não só os grandes gêneros escultóricos em bronze e mármore se tornaram comuns - a estatuária, os grandes sarcófagos, os relevos arquiteturais - mas mais ainda as estatuetas em terracota, os relevos funerários simples, as máscaras mortuárias em cera, cujo custo estava dentro do alcance das classes mais baixas.
Jaś Elsner diz que:
Tais imagens, encontrando os súditos imperiais em todas as formas de suas vidas sociais, econômicas e religiosas, contribuíam para construir uma unidade simbólica entre os povos diversificados que compunham o mundo romano, concentrando seu senso de hierarquia em um indivíduo supremo. Quando um imperador morria, seus herdeiros podiam louvar suas estátuas como as de um deus - proclamando uma continuidade na sucessão e erguendo templos em sua honra. Quando um imperador era derrubado, suas imagens eram violentamente erradicadas numa damnatio memoriae, uma abolição de toda lembrança sua, que informava a população, visual e convincentemente, das mudanças na autoridade política maior.... O antigo politeísmo não era uma religião de escrituras e doutrinas, sob a estrutura de uma igreja hierárquica e centralizada, mas era antes um conglomerado de lugares de culto, rituais e mitos, administrados pelas comunidades e muitas vezes por sacerdotes hereditários. Era eclético e diversificado, amplo, pluralista e tolerante. Assim as imagens e mitos forneciam as principais formas da 'teologia' no mundo antigo.
Quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do império, o papel da arte mudou radicalmente, embora não tenha perdido sua importância central. O deus cristão não era conhecido através de imagens, mas de escrituras e seus profetas e comentadores. Mesmo assim, a escultura e seu repertório de representações naturalistas convencionais foi adotada pela igreja nascente para composição de alegorias, e continuou sendo praticada na esfera laica pública e privada como decoração, registro histórico e para o retrato até a ruptura final do império, ainda como uma forma de enfatizar a herança clássica compartilhada por todos e a fim de estabelecer alguma unidade cultural, num período em que as periferias começavam a desenvolver culturas próprias com largo grau de independência e se tornava cada vez mais complicada a tarefa de manter o território unificado.