Irlandês arcaico
O irlandês arcaico ou primitivo (em irlandês: Gaeilge Ársa, ISO 639: pgl) é a forma mais antiga conhecida das línguas goidélicas (línguas célticas) e ancestral de todos os idiomas dessa família, falada na Irlanda até meados da Alta Idade Média.
Esta fase da língua é conhecida apenas através de fragmentos inscritos no alfabeto ogham em rochas na Irlanda e na costa oeste da Grã-Bretanha, datados em geral do século IV, denominados ogham ortodoxo (em oposição à posterior tradição de ogham escolástico), antes do advento do irlandês antigo por volta do século VII. Embora o uso escolástico do sistema de escrita tenha continuado residualmente até o início do século XIX, as últimas inscrições ortodoxas em irlandês arcaico provavelmente datam do século VI.
Apesar da brevidade da maioria das inscrições ortodoxas, frequentemente limitadas a nomes próprios, a análise profunda da língua irlandesa arcaica está em andamento por celtólogos modernos. Esses estudos revelam que o irlandês arcaico tinha morfologia semelhante à de outras línguas indo-europeias, não apresentando, no entanto, características marcantes do irlandês moderno e médio, como a mutação consonantal gramatical, encontros consonantais e a distinção entre consoantes largas e delgadas.
O irlandês arcaico é a forma mais antiga registrada das línguas goidélicas, sendo ainda ancestral de todos os idiomas dessa família, incluindo o gaélico escocês e o manês. Esses idiomas se separaram do irlandês ao menos a partir de sua fase antiga, devido à migração de gaélicos para outras regiões das Ilhas Britânicas. O irlandês arcaico foi escrito no alfabeto ogham, cujo uso pode ser dividido em duas fases: ortodoxa e escolástica. O ogham ortodoxo representa uma tradição original e druídica de memoriais na fase arcaica da língua irlandesa, sendo o alfabeto nativo. O ogham escolástico, por sua vez, é fruto de uma tradição tardia de restauração acadêmica do antigo sistema de escrita como parte do desenvolvimento de um estilo nativo celta de arte católica, paralela ao uso predominante do alfabeto latino para a escrita da língua.
Mais de 300 inscrições em ogham ortodoxo são conhecidas em rochas com essa finalidade em quase todos os condados da Irlanda, incluindo 121 em Kerry e 81 em Cork, além de mais de 75 encontradas no oeste da Grã-Bretanha (especificamente Gales, Cornualha e Devon), dentre as quais mais de 40 estão em Gales, onde colonos irlandeses se estabeleceram no século III, e 5 na Ilha de Man. Há especulação sobre a ortodoxia de uma inscrição em Hampshire e duas na Escócia (que, adicionalmente, possui dezenas de inscrições em picto), mas sobre estas não há consenso acadêmico. Muitas inscrições são bilíngues, em irlandês e latim, mas nenhuma delas mostra influência cristã, sugerindo que datam de antes de 391, quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano. Apenas cerca de uma dúzia das inscrições irlandesas mostram tal influência.
A maioria das inscrições são memoriais, consistindo no nome do morto no caso genitivo, seguido por maqi, maqqi e o nome de seu pai, ou avi, avvi e o nome de seu avô, por exemplo, dalagni maqi dali. Às vezes, a expressão maqqi mucoi é utilizada para mostrar afiliação tribal. Apenas raramente são encontradas inscrições demonstrando informações adicionais, como qrimtir ron[a]nn maq comogann.
A forma arcaica da língua irlandesa é conhecida apenas através de fragmentos, em geral nomes pessoais, sendo os primeiros datados pela maior parte da academia do século IV, embora estimativas distintas para a data das primeiras inscrições oscilem entre os séculos I e V. No entanto, essas estimativas mais tardias concordam que a tradição escrita é mais antiga do que as evidências sobreviventes. O uso do ogham continuou residualmente até o início do século XIX, com a última inscrição encontrada no túmulo de Mary Dempsey em Ahenny, em ogham e inglês. As últimas inscrições em irlandês arcaico, contudo, parecem datar do século VI.