Arte do Antigo Egito
Os antigos egípcios produziram arte para servir a propósitos funcionais. Por mais de 3.500 anos, os artistas aderiram a formas artísticas e iconografias que foram desenvolvidas durante o Império Antigo, seguindo um rigoroso conjunto de princípios que resistiu à influência estrangeira e à mudança interna. Esses padrões artísticos – linhas simples, formas e áreas planas de cores combinadas com características de projeções planas das figuras, sem indicação de profundidade espacial – criaram um senso de ordem e equilíbrio dentro de uma composição.
Imagens e textos foram intimamente entrelaçados nas tumbas e paredes dos templos, caixões, estelas e até estátuas. A Paleta de Narmer, por exemplo, exibe figuras que também podem ser lidas como hieróglifos. Por causa das regras rígidas que presidiram à sua aparência altamente estilizada e simbólica, a arte serviu a seus propósitos políticos e religiosos com precisão e clareza. A hierarquia social e religiosa influenciava o tamanho dos personagens.
As figuras nas pinturas e baixo-relevos são descritas respeitando a lei da frontalidade: cabeça, pernas, peito, ventre e braços de perfil; olhos, ombros, umbigo e baixo-ventre de frente. O personagem principal de uma pintura deve aparecer sempre maior do que os personagens secundários. Faraós mandaram gravar em relevos vitórias de batalhas, decretos reais e cenas religiosas, dispostas em faixas horizontais acompanhadas por hieróglifos e apresentando "balões" indicando falas.
Cores e Simbolismo
As cores possuíam uma função simbólica nas pinturas: o preto (sobrancelhas, perucas, olhos e bocas) simbolizava a noite, a morte, a fertilidade, a regeneração e as inundações do Nilo; o branco (vestes dos sacerdotes, objetos rituais, casas, flores e templos) representava a pureza, verdade, alegria e triunfo; o azul simbolizava o Nilo e o céu; o verde, a regeneração e a vida; o amarelo, a eternidade; e o vermelho, a energia, o poder, a sexualidade e Seti. A pele dos homens era pintada de vermelho-ocre e a das mulheres de amarelo-ocre.
As tintas eram obtidas a partir de minerais, como minérios de ferro (ocre vermelho e amarelo), minérios de cobre (azul e verde), fuligem ou carvão (preto) e calcário (branco). As tintas podiam ser misturadas com goma-arábica como aglutinante e prensadas em bolos, que eram umedecidos com água quando necessário. No entanto, análises de múmias de cerca de 3.200 a.C. mostram sinais de anemia hemolítica e outros distúrbios, causados por intoxicação com metais pesados (chumbo, mercúrio, arsênio, cobre) usados como pigmentos, corantes e maquiagem, especialmente pelas classes dominantes.
Esculturas e Estátuas
Os artesãos do Antigo Egito usavam pedra (basalto, pórfiro, xisto, diorito e granito) para esculpir estátuas e finos relevos, mas utilizavam madeira como um substituto barato e fácil de esculpir. Algumas estátuas serviam a objetivos políticos, sendo colocadas diante dos templos para que o povo as visse, mas tinham, sobretudo, um objetivo religioso. No geral, as estátuas têm figura que olha à frente, numa linha perpendicular ao plano dos ombros, com os braços colados ao corpo.
As estátuas que se encontravam nos túmulos eram consideradas como uma espécie de corpo de substituição; o cá e o bá deveriam reconhecer o rosto onde habitavam, não sendo relevante mostrar os defeitos do corpo. Algumas estátuas atingiam proporções grandiosas, como a Esfinge de Gizé e os Colossos de Memnon.
Os cidadãos comuns tiveram acesso a obras de arte funerária, como estátuas chauabtis e o Livro dos Mortos, que acreditavam que iria protegê-los na vida após a morte. Durante o Império Médio, modelos de madeira ou barro com cenas da vida diária tornaram-se populares como aditamentos aos túmulos. Esses modelos mostravam operários, casas, barcos e até mesmo formações militares, representações à escala do ideal de vida após a morte dos antigos egípcios.
Estilos Artísticos e Mudanças
Apesar da homogeneidade da arte, os estilos de determinadas épocas e lugares refletiram, por vezes, mudanças de atitudes culturais ou políticas. Após a invasão dos hicsos no Segundo Período Intermediário, afrescos de estilo minoico foram encontrados em Aváris. O exemplo mais marcante de uma mudança de motivação política na forma artística encontra-se no período Amarna, quando as figuras foram radicalmente alteradas em conformidade com as ideias religiosas revolucionárias de Aquenáton. Esse estilo, conhecido como arte Amarna, foi rapidamente e completamente apagado depois da morte de Aquenáton e substituído por formas tradicionais. Durante a época romana, os retratos de Faium dominaram a composição mortuária, e as máscaras mortuárias foram substituídas por retratos realistas dos defuntos.