Movimento Comunero
As relações coloniais, dentro de sua lógica de exploração, impunham um tipo de subordinação nas áreas de colonização, frequentemente gerando conflitos entre a autoridade metropolitana e a população colonial. Esse quadro pode ser observado tanto nas colônias portuguesas quanto nas espanholas. A partir do século XVIII, com o surgimento dos ideais iluministas e as revoluções contra o Antigo Regime na Europa, essas tensões se intensificaram no continente americano.
Até a deflagração dos movimentos de independência no continente, na primeira metade do século XIX, alguns movimentos começaram a evidenciar a insustentabilidade do pacto colonial. Foi nesse contexto que, em 1781, a população do Vice-Reinado de Nova Granada organizou um movimento para pôr fim à dominação espanhola na região. Contando com o apoio de amplos setores da sociedade colonial, o movimento foi apoiado por índios, mestiços e criollos (filhos de espanhóis nascidos na América).
Naquela região, que atualmente corresponde aos territórios do Equador, Colômbia, Venezuela e Panamá, as relações de trabalho impostas pelos espanhóis reduziram drasticamente a população indígena e prejudicaram seus traços culturais. A mita e a encomienda, principais relações de trabalho coloniais, forçavam os índios a se submeterem a condições de trabalho extremamente duras. Além disso, a cobrança de impostos na colônia prejudicava as elites e as classes intermediárias locais.
Em 1780, as tensões aumentaram quando a Coroa Espanhola decidiu elevar os impostos cobrados sobre os colonos. Imediatamente, comerciantes, proprietários de terra de diferentes tamanhos e a população local começaram a se manifestar contra essa medida. Entre os indígenas, as manifestações tornaram-se mais radicais, resultando na perseguição aos cobradores de impostos e na destruição de propriedades metropolitanas.
O aumento da insatisfação levou à organização de um movimento separatista. Em abril de 1781, os revoltosos formaram uma junta de governo chamada "El Común". Entre os líderes do movimento, destacaram-se o criollo Juan Francisco de Berbeo e o mestiço José Antonio de Galán, que desempenhou um papel fundamental na mobilização das camadas populares contra as autoridades espanholas. Em pouco tempo, o caráter popular da revolta se intensificou.
A adesão maciça da população fez com que os criollos se afastassem do movimento, temendo perder seus privilégios econômicos com a radicalização da revolta. Assim, os criollos passaram a apoiar as autoridades espanholas. Entre junho e outubro de 1781, a revolta se polarizou entre as camadas populares, que lutavam contra as autoridades espanholas, e as elites criollas. No fim desse período, Galán foi preso e, no ano seguinte, condenado à forca. Para instaurar o terror entre os revoltosos, seu corpo foi esquartejado e exposto nos principais focos da revolta.
Com a vitória das elites coloniais e o afastamento da elite criolla do movimento, os comuneros se desarticularam. Contudo, o fim desse movimento não impediu o surgimento de outras revoltas e futuros movimentos de independência nas regiões coloniais espanholas.