Antes do Baile Verde
Antes do Baile Verde é uma obra de contos brasileira escrita por Lygia Fagundes Telles e publicada originalmente pela Editora Bloch em 1970. É considerada uma das publicações mais relevantes da autora, a qual iniciou a consagração de sua carreira na década de 1970. O livro agrupa contos contemporâneos realistas de caráter intimista, refletindo características da terceira geração modernista e do Concretismo.
Composto por dezoito contos, escritos entre 1949 e 1969, o livro trata de temas como o adultério, a insatisfação conjugal, a loucura e a desmistificação dos papéis familiares, com personagens oriundas de famílias urbanas brasileiras de classe média que escondem dramas e conflitos. Antes do Baile Verde foi distribuído na gestão de Emílio Garrastazu Médici, durante a ditadura militar, e, logo após sua publicação, conseguiu o Grande Prêmio Internacional Feminino para Contos Estrangeiros.
A obra contista consolidou a carreira da escritora, rendendo-lhe o Prêmio Guimarães Rosa em 1972 e o Prêmio Coelho Neto em 1973. Além desta, outros contos de Lygia a possibilitaram ser escolhida para a cadeira de número dezesseis da Academia Brasileira de Letras, fundada por Machado de Assis. Em 1993, O Moço do Saxofone, um dos contos de Antes do Baile Verde, foi adaptado para a televisão em um episódio da série Retrato de Mulher.
O Modernismo no Brasil iniciou-se com a Semana de Arte Moderna em 1922. Dentre suas características, observou-se o abandono das perspectivas passadistas e a liberdade formal, aproximando a fala da escrita. Na primeira geração, destacaram-se Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. A preocupação existencial do homem no mundo e suas relações sociais conquistaram espaço na produção literária brasileira, refletidas na segunda fase modernista, na qual Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Rachel de Queiroz abordaram o contexto sociopolítico da época.
O cenário sociopolítico provocou uma mudança ainda mais explícita na literatura a partir de 1945, quando se iniciou a terceira geração. Nesta, João Cabral de Melo Neto publicou Morte e vida severina, uma obra poética que estabelece uma crítica à concentração fundiária. Na poesia, destacou-se o Concretismo, movimento artístico que rompeu com o lirismo e passou a estender a significação dos poemas à disposição tipográfica das palavras. Décio Pignatari e os irmãos Augusto de Campos e Haroldo de Campos foram alguns dos expoentes dessa vertente.
Ferreira Gullar também participou do movimento concretista, mas ampliou os sentidos dos poemas por meio de uma exposição engajada em seus textos. Na mesma época, Guimarães Rosa escreveu Grande Sertão: Veredas, obra que dá voz ao sertanejo e descreve, em monólogo, a longa travessia de jagunços por Minas Gerais, Goiás e Bahia. Outra escritora pós-moderna, Clarice Lispector, expôs uma estrutura recorrente às suas prosas, que viria a conduzir a produção de contos: uma personagem está em uma condição rotineira e se inquieta com um evento; algum elemento externo a faz retornar à normalidade (epifania) e, com isso, "descobre" sua verdadeira identidade. A poesia intimista, o fluxo de consciência e a introspecção feminina, também usufruídos por Lispector, foram utilizados por Lygia Fagundes Telles em toda a sua carreira literária.