Volubilis
Volubilis (em árabe: وليلي; romaniz.: Oualili ou Walila) foi uma cidade romana, cujas ruínas constituem atualmente um sítio arqueológico parcialmente escavado situado no norte de Marrocos, nos arredores da cidade santa de Mulei Idris, a norte de Mequinez. As ruínas estão inscritas na lista do Património Mundial da UNESCO desde 1997.
História de Volubilis
A antiga cidade situa-se numa fértil planície agrícola e desenvolveu-se a partir do século III a.C. como um assentamento fenício-cartaginês, tendo crescido rapidamente sob o domínio romano a partir do século I a.C. até ocupar uma área de aproximadamente 40 hectares, rodeada por muralhas com 2,6 km de perímetro. No século II, a cidade foi dotada de uma série de edifícios públicos, nomeadamente uma basílica, um templo e um arco do triunfo. A sua prosperidade, que advinha principalmente das culturas da oliveira, cereais e do fornecimento de animais selvagens para os espetáculos de gladiadores, propiciou a construção de muitas casas urbanas ricas, com grandes mosaicos de chão.
O fim da cidade
Volubilis foi tomada por tribos locais c. 285 e nunca foi reconquistada por Roma devido à sua localização remota e de difícil defesa, na fronteira sudoeste do Império Romano. Continuou a ser habitada durante pelo menos mais 700 anos, primeiro como uma comunidade latinizada cristã e depois como uma localidade islâmica. No final do século VIII, tornou-se a capital de Idris ibne Abdalá, o fundador da dinastia idríssida, o primeiro estado muçulmano de Marrocos. No século XI, Volubilis tinha sido abandonada e a capital idríssida transferida para Fez. A maior parte da sua população mudou-se para a nova cidade de Mulei Idris, situada num monte a sudeste de Volubilis.
Ruínas e escavações
As ruínas mantiveram-se praticamente intactas até serem arrasadas pelo terramoto de 1755, o mesmo que destruiu Lisboa. Pouco depois, serviram de pedreira para a construção de Mequinez. Só no final do século XIX é que o local foi definitivamente identificado como sendo a antiga cidade de Volubilis. Durante e após o Protetorado Francês de Marrocos, cerca de metade do sítio foi escavado, tendo sido descobertos muitos mosaicos, e alguns dos edifícios públicos e casas mais importantes foram restaurados ou reconstruídos. A classificação como Património Mundial deve-se ao facto de ser um exemplo excecionalmente bem preservado de uma grande cidade colonial romana nos limites do império.
Características e vestígios arqueológicos
O sítio tem todas as características de refúgio natural, do tipo "esporão fechado". A área foi habitada pelo menos desde o Neolítico Atlântico Tardio, c. 3 000 a.C. Em escavações no local, foi descoberta cerâmica neolítica com desenhos comparáveis aos de peças encontradas na Península Ibérica. Os vestígios mais antigos, compostos principalmente por machados de pedra polida, mós e brunidores, são raros e foram encontrados fora de contexto.
O povoado só se tornou uma verdadeira entidade urbana durante o Reino da Mauritânia, no século IV ou III a.C., e desenvolveu-se sobretudo no século II a.C. Os restos de um templo dedicado ao deus fenício Baal e achados de cerâmica e pedras com inscrições em língua fenícia comprovam a presença púnica no século III a.C. Os fenícios e os cartagineses seus sucessores marcaram presença nas costas africanas a partir do início do 1º milénio a.C. e a sua civilização penetrou no interior a partir dos seus entrepostos, como Lixo (atual Larache) e Tânger.
Administração e influência
Apesar de pertencer aos reinos da Mauritânia, a administração da cidade seguiu o modelo de governo cartaginês a partir do século III a.C., com sufetes (magistrados supremos), à semelhança de Cartago e das colônias púnicas. As técnicas de construção e os artefatos encontrados sublinham igualmente a influência púnica. Os estudos arqueológicos revelaram que no século II a.C. existia uma pequena cidade protegida por uma muralha em tijolo com bases de pedra, que aparentemente ocupava cerca de 12 hectares.
Como o resto da Mauritânia, Volubilis lutou contra Cartago ao lado de Massinissa, rei da Numídia entre 202 e 148 a.C., aliado dos romanos no final da Segunda Guerra Púnica (218–201 a.C.). O Reino da Mauritânia tornou-se um estado cliente de Roma em 146 a.C., na sequência da queda de Cartago, e o seu rei Boco I (r. 110–80 a.C.) foi um aliado de Roma contra Jugurta. Com a morte de Boco II em 33 a.C., o reino passou a ser administrado por Roma, que lá instalou tropas veteranas.
Juba II e a romanização
A influência púnica perdurou durante um período considerável depois disso, pois os magistrados da cidade ainda tinham o título cartaginês de sufete muito depois do fim do domínio púnico. A língua púnica, cujo uso é atestado no século II a.C., manteve-se na sua variante neo-púnica até ao reinado de Juba II (r. 25 a.C.–23 d.C.). Juba II, rei da Numídia e vassalo de Roma, foi colocado no trono mauritano pelo imperador Augusto em 25 a.C. e empenhou-se na construção de uma capital real em Volubilis. Educado em Roma e casado com Cleópatra Selene II, a filha de Marco António e Cleópatra, Juba e o seu filho Ptolomeu (r. 23–40 d.C.) foram reis romanizados, embora de ascendência berbere. As suas preferências pela arte e arquitetura romanas refletiram-se claramente no desenho da cidade.