A Invisibilidade do Autismo Adulto
Se você está familiarizado com o tema, já deve ter ouvido falar na estatística mais recente sobre incidência, não é mesmo? De qualquer forma, vale relembrar: estima-se que existam em torno de 70 milhões de autistas no mundo (o equivalente a 1% da população mundial). Isso significa que, se estivermos dentro da média, somos mais ou menos 2 milhões de brasileiros dentro do espectro do transtorno do autismo (TEA). Estas estatísticas sobre o número de casos de autismo no Brasil, no entanto, são apenas uma projeção. Não há como responder com certeza quantos autistas existem no país, pois ainda não temos estudos que forneçam números oficiais.
A boa notícia é que, desde 2016, tramitava no congresso um projeto de lei para incluir os dados sobre o autismo no censo demográfico do IBGE, que foi transformado na Lei 13.861/19.
Autismo no Censo: Como as Estatísticas Podem Contribuir
A expectativa é que os dados recolhidos pelo IBGE nos ajudem a conhecer o contexto social, econômico, familiar e emocional das pessoas com TEA. Além disso, espera-se que a iniciativa dê maior visibilidade ao autismo e favoreça a criação de políticas públicas que garantam oportunidades de diagnóstico e tratamento aos autistas.
Mesmo assim, é possível que o mapeamento do IBGE não corresponda exatamente com a realidade, mas que traga uma estimativa aproximada dela. Isso se deve, entre outros motivos, ao fato de muitas pessoas nunca terem recebido o diagnóstico quando crianças.
A Invisibilidade do Autismo Adulto
Nos últimos anos, o número de diagnósticos de autismo em crianças vem crescendo. Mas será que o transtorno é mais comum agora do que era anos atrás? Grande parte dos especialistas acha que não. É provável que os números tenham aumentado justamente porque agora conhecemos melhor o espectro do que conhecíamos há 30 ou 40 anos, por exemplo. Isso nos faz pensar em todas as pessoas adultas que nunca foram diagnosticadas e, portanto, nunca tiveram qualquer tipo de tratamento. Além disso, como nem todo mundo sabe reconhecer os sintomas do autismo em adultos, o diagnóstico tardio se torna ainda mais difícil. Muitas vezes, isso compromete a qualidade de vida das pessoas que convivem com o TEA, mas sequer conhecem sua condição.
Não existem respostas prontas para enfrentar a questão, mas certamente o caminho passa por criarmos mais oportunidades de discutir o tema. Precisamos fortalecer a conscientização sobre o autismo e expandir o debate para além do diagnóstico infantil. Isso vai dar mais visibilidade aos autistas adultos e seus desafios.
Sintomas de Autismo em Adultos: Quando o Diagnóstico é Tardio
Sabemos que as principais dificuldades das pessoas com TEA são no desenvolvimento padrão da linguagem, interação social, processos de comunicação e comportamento social. No caso dos autistas adultos que não foram diagnosticados na infância, mas que vivem muito próximo do que se considera “normal”, ou seja, trabalham, estudam, sempre conviveram em sala de aula regular e constituíram família, os sintomas mais prováveis são aqueles que marcam o autismo leve, ou seja, o nível menos grave do espectro.
Os sintomas do autismo leve em adultos geralmente ficam mais evidentes nas áreas da interação e comunicação social do que no desenvolvimento cognitivo propriamente dito, já que eles não possuem nenhum tipo de prejuízo intelectual ou deficiência mental. Pode ser muito difícil identificar os sintomas de autismo em adultos, mas alguns sinais podem ajudar a reconhecer o transtorno:
Interação
- O autista tem dificuldade para compreender regras sociais subliminares, como por exemplo:
- Expressões faciais não óbvias são difíceis de serem percebidas, então parece que a pessoa “não se liga” quando outra faz um sinal não verbal (por exemplo: gesto, olhar, careta) com o objetivo de transmitir uma mensagem, chamar atenção ou adverti-la de algo;
- É comum que haja problemas para entender metáforas, ironias e piadas que têm duplo sentido ou uma mensagem “escondida”.
- Os autistas apresentam dificuldade para ter empatia com o outro, por isso geralmente não percebem sinais de tristeza, raiva, tédio e até de alegria, a menos que sejam bastante óbvias;
- A pessoa pode parecer ingênua, não ver maldade, “malandragem” ou malícia em situações que outras pessoas normalmente perceberiam com facilidade.
Socialização
- Pouca demonstração de afeto;
- Desconforto ou estranheza na hora de receber afeto, a pessoa pode se sentir incomodada com a proximidade, toque ou abraços de pessoas que não sejam muito íntimas;
- Geralmente, os autistas não ficam à vontade com demonstrações de carinho, mesmo com aqueles de quem são próximas, e podem evitar beijos, abraços ou toques;
- Têm dificuldade em falar sobre seus sentimentos e compreender ou prever os sentimentos dos outros;
- Não se envolvem com interesses alheios e têm problemas para conseguir se colocar no lugar dos outros, seja em momentos de alegria ou sofrimento;
- Têm dificuldade em compreender coisas abstratas como, por exemplo, sensações, intuições, ideologias, etc.;
- Parecem encarar a vida de forma muito prática e objetiva;
- Podem preferir falar de assuntos muito específicos por muito tempo e, como têm dificuldade para perceber sinais sutis, muitas vezes não conseguem perceber quando as outras pessoas não estão mais interessadas no seu discurso;
- Utilizam linguagem direta e podem ser percebidas como “grossas”, “estúpidas” ou inadequadas, simplesmente porque são extremamente honestas com seus pensamentos e não percebem que podem chatear o outro com sua sinceridade;
- Podem usar linguagem muito formal e fora de contexto.
Funcionamento
- Trabalham melhor sozinhos do que em equipe;
- Geralmente não têm bom desempenho em entrevistas de emprego;
- Não costumam ter bom desempenho escolar ou na universidade, especialmente por ter foco bastante restrito;
- Alguns autistas podem ter um desempenho acima do comum em determinadas atividades e serem considerados extremamente talentosos em suas áreas de interesse. Mas ao contrário do que se possa imaginar, apenas uma parte pequena dos autistas (cerca de 10%) está deste lado do espectro;
- Apresentam muita resistência a fazer as coisas fora do planejado e sair da rotina, ficando ansiosos e irritados com a situação;
- Hiperfoco em ferramentas, instrumentos, mecanismos tecnológicos e coisas materiais.