Transfusões de sangue
A transfusão é um procedimento médico que transfere sangue ou seus componentes (plasma, plaquetas, hemácias e leucócitos) de um doador para o sistema circulatório de um receptor. Para que o procedimento seja bem-sucedido, é essencial haver compatibilidade entre o sangue do doador e do receptor. Este tipo de terapia tem se mostrado eficaz em situações de choque, hemorragias ou doenças sanguíneas, e é comumente utilizada em cirurgias, traumatismos e hemorragias digestivas, entre outros casos de grande perda de sangue.
História das Transfusões de Sangue
As primeiras transfusões de sangue foram realizadas em animais no século XVII, iniciadas por Richard Lower em Oxford, em 1665. Em 1667, Jean Baptiste Denis, médico do rei Luís XIV, realizou uma transfusão heteróloga (entre espécies diferentes) em um paciente humano, infundindo sangue de carneiro. No entanto, esta prática foi proibida na época devido aos riscos envolvidos.
Em 1788, Pontick e Landois obtiveram resultados positivos com transfusões homólogas, conclamando que poderiam ser benéficas para salvar vidas. Em 1818, James Blundell realizou a primeira transfusão humana documentada com sucesso em uma paciente com hemorragia pós-parto.
Durante o final do século XIX, problemas com coagulação e reações adversas continuaram sendo desafios. Em 1869, Braxton Hicks introduziu o fosfato de sódio como anticoagulante, e Karl Landsteiner descobriu os tipos sanguíneos ABO em 1901, permitindo maior segurança nas transfusões. Em 1914, Hustin recomendou o uso de citrato de sódio como anticoagulante, seguido pela primeira transfusão segura durante a Primeira Guerra Mundial.
No século XX, o progresso incluiu a descoberta do fator Rh e a criação do primeiro banco de sangue pelo médico espanhol Frederic Durán em 1949. A prática das transfusões tornou-se mais segura com o uso de anticoagulantes, melhor aparelhagem e maior conhecimento sobre os tipos sanguíneos e fatores Rh.
Componentes e Funções do Sangue
O sangue é um tecido vivo que circula pelo corpo, fornecendo oxigênio e nutrientes aos órgãos e removendo dióxido de carbono. Ele é composto por:
- Plasma: Líquido que transporta nutrientes, hormônios e proteínas.
- Hemácias: Glóbulos vermelhos responsáveis pelo transporte de oxigênio.
- Plaquetas: Participam do processo de coagulação.
- Leucócitos: Glóbulos brancos responsáveis pela defesa do organismo.
O sangue é produzido na medula óssea de ossos como as vértebras, costelas, quadril, crânio e esterno.
Compatibilidade Sanguínea e Sistema ABO
O sistema ABO classifica o sangue em quatro tipos: A, B, AB e O. A presença de antígenos A e B nas hemácias determina essa classificação. Os indivíduos que possuem o antígeno A são do tipo A, e aqueles com antígeno B são do tipo B. Quando possuem ambos, são do tipo AB, e quando não possuem, são do tipo O.
No sistema ABO, os anticorpos presentes no plasma reagem contra antígenos incompatíveis, o que pode causar reações adversas. Por exemplo, indivíduos do tipo A têm anticorpos anti-B, enquanto os do tipo B têm anticorpos anti-A. O tipo AB não possui anticorpos, e o tipo O possui ambos, tornando-o doador universal para hemácias.
Sistema Rh
Além do sistema ABO, o sangue também é classificado pelo fator Rh, que indica a presença ou ausência de um antígeno específico. Indivíduos com este antígeno são Rh positivo, enquanto os que não o possuem são Rh negativo. Assim, indivíduos Rh positivo podem receber sangue Rh negativo, mas o contrário não é seguro.
Compatibilidade Sanguínea e Doadores Universais
A compatibilidade sanguínea é essencial para garantir transfusões seguras. Pessoas do grupo O negativo são consideradas doadoras universais de hemácias, pois seu sangue é compatível com todos os tipos. Já pessoas do grupo AB positivo são receptoras universais, podendo receber sangue de qualquer tipo. No entanto, é ideal que o receptor receba sangue do mesmo tipo sempre que possível.
Utilização dos Componentes do Sangue
Em transfusões, o sangue pode ser separado em hemocomponentes e hemoderivados, permitindo que apenas a fração necessária seja utilizada para cada caso. Por exemplo, hemácias são indicadas para pacientes com anemia, enquanto o plasma pode ser utilizado em casos de deficiência de fatores de coagulação.