Religião no Antigo Egito
O Antigo Egito fundamentou-se por sua plena relação com o divino e na vida após a morte, de tal modo que o reinado faraônico foi baseado no direito divino dos reis. Considerava-se o faraó filho do deus Rá (depois conhecido como Amom-Rá ao ser fundido com Amom). A religião teve influência tanto em âmbito ideológico, pois a história foi explicada sob viés divinos, quanto em caráter prático, moldando a sociedade e a economia por influência de tal instituição. Durante a história, a economia local esteve intimamente relacionada com os templos. Na religiosidade, o culto às divindades sobrepunha-se às crenças gerais, fazendo da religião mais ortoprática do que ortodoxa.
Politeísmo e Deuses Egípcios
Os egípcios antigos eram politeístas e seus deuses representavam diversos elementos naturais, vinculados a aspectos cotidianos. Cada cidade possuía seu deus padroeiro, assim como um específico animal sagrado consagrado a ele. Caso uma cidade se tornasse capital do reino (como Tebas), o deus local e o animal dedicado a ele eram elevados ao âmbito nacional e, consequentemente, começavam a ser cultuados em todo o império (como Amom). Os deuses egípcios tinham características antropomórficas, zoomórficas ou mistas. Embora idealizassem seus deuses com certas características animais, postulavam que tal deus possuísse as habilidades daquele animal e não necessariamente sua forma.
Os deuses, muitas vezes evocados para ajuda e proteção, também eram provedores de grandes males, de modo que precisavam ser aplacados com oferendas e orações. Assim como a sociedade, o mundo divino egípcio era fortemente hierarquizado. Continuamente, por meio de mitos diversos, os deuses do panteão eram promovidos ou rebaixados nesta hierarquia. Isso ocorreu, pois os sacerdotes não se esforçavam para organizar os diversos mitos, que muitas vezes eram conflitantes, em um sistema coerente, considerando essas concepções divinas como múltiplas facetas da realidade. Os deuses eram ordenados em grupos de três (tríades), oito (Enéades) e nove (Ogdóades); dentre eles, podemos citar a Enéade de Heliópolis, a Ogdóade de Hermópolis e as Tríades de Mênfis, Tebas e Elefantina.
Cultos e Templos
Os deuses, a mando dos faraós, eram adorados nos templos, que eram administrados por sacerdotes que diariamente lavavam, perfumavam, maquiavam e alimentavam a estátua do deus, que permanecia trancada em um nau no centro do templo. Os templos não eram locais para adoração pública; somente em dias comemorativos ou em festas selecionadas se transportava a estátua para um santuário onde havia adoração pública. As procissões que transportavam as estátuas eram assistidas pela população e contavam com a participação de músicos e cantores. Cidadãos comuns podiam ter estátuas cultuais privadas, assim como amuletos de proteção. Após o Império Novo, o papel do faraó como intermediário espiritual foi ofuscado pelo desenvolvimento de um sistema de oráculos, que comunicava as vontades divinas diretamente à população.
Vida Após a Morte
Os egípcios desenvolveram um conceito pleno de vida após a morte. Inicialmente acessível apenas para os faraós, a partir do Primeiro Período Intermediário, esse conceito se alargou para toda a população, provocando um considerável aumento do uso de práticas como a mumificação. Segundo a visão egípcia, os seres humanos eram compostos por cinco partes: corpo, sombra (šwt), alma (bá), força vital (cá) e nome. O coração, ao invés do cérebro, era considerado a sede de todos os pensamentos e emoções. Após a morte de um indivíduo, seus aspectos espirituais eram liberados e necessitavam de restos físicos ou uma estátua para habitarem permanentemente. Todo defunto almejava voltar ao seu cá e bá, de modo a se tornar um anque (akh). Para isso, era necessário que o defunto fosse julgado digno no Tribunal de Osíris, onde seu coração era pesado. Caso considerado digno, ele poderia continuar a existir na terra em forma espiritual; caso contrário, seria devorado por um monstro composto por uma mistura de três animais: leão, crocodilo e hipopótamo.