Práticas funerárias egípcios
Os antigos egípcios mantiveram um elaborado conjunto de costumes de sepultamento que acreditavam serem necessários para garantir a imortalidade após a morte. Esses costumes envolviam preservar o corpo por meio da mumificação, realizar cerimônias fúnebres e enterrar, junto com o corpo, o espólio que seria utilizado pelo falecido quando ressuscitasse. Antes do Império Antigo, os corpos eram enterrados em covas no deserto e, naturalmente, eram preservados por dessecação.
Após a V dinastia, a mumificação, que era um privilégio exclusivo das classes abastadas do Egito, tornou-se acessível para toda a população, mesmo que de forma variada. Durante o Império Novo, os sarcófagos antropomórficos tornaram-se comuns, e durante a XX dinastia, a prática de decoração das tumbas foi alterada pela decoração dos sarcófagos. Múmias da Época Baixa também foram colocadas em sarcófagos com cartonagem pintada. As práticas de preservação real diminuíram durante as eras ptolomaica e romana, quando passou a dar-se mais atenção à aparência exterior das múmias, que passaram a ser decoradas.
Processo de Mumificação
O sepultamento dos pobres era muito mais simples do que o da elite, pois não tinham condições financeiras. Os pobres recebiam uma injeção de essências e vinhos corrosivos pelo ânus para dissolver os órgãos internos. Após alguns dias, com os órgãos dissolvidos, o corpo era enfaixado com peles de animais para ser enterrado no deserto, onde se conservaria por dissecação.
Os ricos, por outro lado, possuíam um processo diferente, chamado de mumificação artificial. Inicialmente, o cérebro era removido com uma pinça metálica pelo nariz. Os outros órgãos (prática iniciada após a IV dinastia), com exceção do coração, eram retirados, mumificados e depositados em vasos canópicos. O interior do corpo era lavado com vinho e substâncias aromáticas e depois preenchido com mirra e canela; posteriormente, era embebido em natrão (mistura de sais) por 70 dias. Por fim, era lavado para receber resinas e perfumes e ser enfaixado com tiras de linho embebidas em goma; entre as tiras, havia amuletos de proteção. O corpo recebia uma máscara fúnebre e era depositado em sarcófagos líticos ou de madeira.
Cortejo Fúnebre
O cortejo fúnebre iniciava-se após a colocação do corpo dentro de seu sarcófago. Este era transportado por um carro de bois enquanto familiares, amigos, sacerdotes e carpideiras contratadas o acompanhavam. Ao chegarem ao destino, procedia-se a uma série de rituais, dos quais o mais importante era o da Abertura da Boca. Neste ritual, a múmia era retirada do sarcófago para ser segurada por um sacerdote com uma máscara de Anúbis. Então, o filho do morto ou outro herdeiro, vestido com roupa de leopardo e, simbolicamente, com uma machadinha, fazia um corte que abria a boca do defunto, permitindo que este recuperasse o fôlego da vida. Só então o corpo era depositado novamente no sarcófago para ser enterrado.
Os ricos eram enterrados com maiores quantidades de itens de luxo, mas todos os enterros, independentemente do estatuto social, incluíam bens para o defunto. A partir do Império Novo, os "Livros dos Mortos" foram incluídos nos túmulos, juntamente com estátuas chauabtis que, segundo as crenças, realizavam trabalhos manuais por eles na vida após a morte. Enquanto a classe pobre era enterrada em covas rasas no deserto, a elite construía para si túmulos que podiam ser pirâmides, hipogeus (túmulos subterrâneos cavados nos barrancos dos rios ou em encostas de montanhas) e mastabas (tumbas de base retangular com salas para oferendas). Como forma de proporcionar serenidade ao morto, os túmulos eram pintados com cenas da vida do falecido. Após o enterro, esperava-se que os parentes visitassem ocasionalmente o túmulo para levar comida e recitar orações em nome do falecido.
Mumificação Animal
Outra prática muito comum foi a mumificação animal. Os animais mumificados podiam ser bichos de estimação, pedaços de carne ou animais sagrados, divinizados por sua relação com os deuses. Eram, no geral, objetos votivos destinados aos templos de culto a animais. A partir da XXVI dinastia, as múmias votivas tornaram-se populares, gerando um intenso comércio que empregou legiões de trabalhadores especializados.
Entre os animais embalsamados podem-se citar gatos, cães, vacas, touros, burros, cavalos, carneiros, peixes, crocodilos, elefantes, gazelas, íbis, leões, lagartos, macacos, aves, escaravelhos, musaranhos e serpentes. Os animais eram preparados como as múmias humanas: seus órgãos poderiam ser retirados ou dissolvidos, depois eram lavados interiormente com vinho e, em seguida, banhados em natrão para ressecamento e posteriormente eram envoltos com resinas para fixação das bandagens de linho.