Período pré-dinástico do Egito
Nos períodos pré-dinástico e dinástico, o clima do Egito e do Saara como um todo passou por variações significativas, alternando entre períodos de seca extrema e fases úmidas. Durante as fases úmidas, o Saara apresentava uma savana rica em fauna (aves e mamíferos) e flora, e a caça desempenhava um papel importante para os egípcios, fornecendo carne. Os primeiros sinais de domesticação animal, datados de 8 800-6 800 a.C. no Deserto Ocidental, mostram um sistema de pastoreio onde animais eram utilizados para leite e sangue, mas não para carne.
Cerca de 5 500 a.C., pequenos grupos no vale evoluíram para complexos culturais avançados, com domínio de técnicas agrícolas, criação de animais, manufatura e cerâmica. Faium (5 400-4 400 a.C.) destacou-se na tecelagem; Merinde (5 000-4 100 a.C.) construiu túmulos e desenvolveu práticas rituais; Omari (4 600-4 400 a.C.) produziu os primeiros objetos de cobre, e Badari (4 400-4 000 a.C.) introduziu faiança e vidro de esteatita.
O assentamento Maadi-Buto (3 800-3 200 a.C.) criou cemitérios bem definidos e intensificou o comércio com o Oriente Próximo, o Alto Egito e o Deserto Oriental. Importava madeira de cedro, sílex, resinas, vinhos, cobre e exportava cerâmica, conchas e cereais. Sítios como Saís e Buto tornaram-se centros culturais relevantes. Nacada (4 000-3 000 a.C.) foi marcada pela emergência de elites regionais e pela formação de Estados locais que disputavam terras férteis e rotas comerciais, talvez delineando a divisão administrativa dos nomos egípcios.
Durante a cultura Nacada, a fabricação de bens como vasos, adornos e paletas antropo e zoomórficas refletem o crescente poder e riqueza das elites. Nacada produziu também as primeiras habitações de tijolos e adotou práticas religiosas, como o uso de estelas e sarcófagos, além de alguns deuses do panteão, como Hórus e Seti. A escrita hieroglífica surgiu possivelmente com influências mesopotâmicas, enquanto o aumento na produção agrícola permitiu o crescimento das áreas cultivadas e melhoria das técnicas empregadas.
O termo “dinastia 0” agrupa reis conhecidos da fase Nacada IIIb-IIIc, enquanto “dinastia 00” refere-se aos governantes da fase Nacada IIc-IIIa2. Túmulos de chefes locais, como os de Nacada, Gebeleim e Abidos, revelam nomes de reis regionais como Órix, Escorpião I e Falcão I, que antecederam a ascensão dos primeiros faraós. Achados em locais como Tarcã, Tora e Abidos também fornecem indícios dos primeiros faraós, incluindo túmulos atribuídos a Iri-Hor, Cá e Narmer.