Parque Nacional Tikal Flores, El Petén, Guatemala
Tikal é talvez a maior atração turística da Guatemala, acostumada a receber boa parte dos 2,5 milhões de visitantes estrangeiros que chegavam anualmente ao país antes da pandemia. Turistas em excesso já são realidade em destinos como Lanquín, conhecido por suas cavernas e piscinas naturais.
Mas naquele 16 de janeiro de 378 d.C., o turismo destrutivo, digamos assim, atingiu outros níveis. O rei estava morto. E os visitantes instalaram, no trono de Tikal, um dos seus.
Novos estudos sugerem que o que aconteceu em Tikal no século 4 não foi uma invasão, evento tão banal na história da humanidade, mas algo mais sutil e sorrateiro.
No primeiro milênio da nossa era, Teotihuacan, no atual México, era uma das maiores metrópoles do mundo e a maior cidade daquilo que chamaríamos de Américas. Sua influência na região é bem documentada. Uma das grandes demonstrações de seu poder foi, justamente, a conquista de Tikal, que à época era um dos centros da civilização maia.
Em 2018, pesquisadores usaram equipamentos com lidar, tecnologia que, por meio de laser pulsado, faz uma espécie de escaneamento 3D de grandes superfícies. Assim, descobriram toda uma rede de vias na selva que mostra como a cidade era muito mais complexa do que as ruínas visíveis hoje fazem crer. Na parte sul de Tikal, o que antes era apenas um morro escondia, na verdade, muito mais.
(Crédito: Wild Blue Media/Channel 4/National Geographic)
A colina verdejante camuflava uma pirâmide e um pátio. Faltava descobrir o que isso significava.
Quando os arqueólogos analisaram as imagens, constataram que não se tratava de uma pirâmide qualquer, mas de uma versão menor da Cidadela de Teotihuacan. Ou seja, aquilo seria, possivelmente, um posto avançado, uma embaixada de Teotihuacan em Tikal, a mais de 1.000 km de distância.
Eles levantaram essa hipótese porque a pirâmide é mais antiga do que a conquista da cidade. A réplica da Cidadela foi erguida por volta do ano 300, 78 anos antes do golpe que derrubou o rei maia e instalou um governante teotihuacano no poder. Se tivesse sido construída depois, seria apenas um sinal claro de que Teotihuacan estava dando as cartas – algo que a ciência já sabia.
Mas ela é de antes. Daí o mistério.
Nas escavações, o time de Román Ramírez, da Fundação para o Patrimônio Cultural e Natural Maia, descobriu armas, pedaços de queimadores de incenso, esculturas e oferendas funerárias. Tudo com motivos de Teotihuacan. As armas eram de obsidiana verde, típicas da cidade, os queimadores eram iguais aos usados em cerimônias, as esculturas eram do deus da chuva de Teotihuacan.
Praticamente um bairro teotihuacano encravado na cidade maia. Nem nossos emigrantes com saudade de casa em um Brazilian Day da vida se sentiriam tão acolhidos assim.
