O SENTIDO LITÚRGICO DO DIA DE FINADOS
História da Celebração
O Cristianismo nasceu embebido pela vida, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo Senhor. O ápice da vida do Filho de Deus foi sentir em sua carne a frieza da morte. Sem dúvida, ao doar amorosamente sua vida na cruz, Jesus viveu em sua própria carne a experiência da morte. Ele morreu realmente. Mas a Graça de Deus, confirmando a mensagem e o testemunho de vida de Jesus, o ressuscitou dos mortos e garantiu a todos os fiéis que nele depositam suas esperanças a possibilidade de transcender também a fase finita da vida e alcançar a plenitude da personalidade e potencialidades humanas, na realidade de fé que chamamos de Vida Eterna.
Celebrações dos Fiéis Falecidos
Desde muito cedo, o Cristianismo celebrou os fiéis que morreram unidos à sua comunidade de fé. Os mártires eram venerados nos locais de seu martírio, e as primeiras construções genuinamente cristãs foram monumentos em homenagem a esses heróis da fé. Além disso, as perseguições imperiais obrigavam os cristãos a se refugiarem em catacumbas para a celebração dos exercícios litúrgicos. As catacumbas nada mais eram que os primeiros cemitérios cristãos.
O Uso de Missas pelos Defuntos
Os mais antigos sacramentários romanos atestam o uso de missas pelos defuntos. O costume de rezar pelos mortos em celebrações específicas parece ter surgido pelo fato de que não era possível realizar exéquias dos cristãos no momento da morte, tamanho o medo da perseguição pagã. Assim, dias depois do fato, geralmente uma semana ou mesmo trinta dias, a comunidade reunia-se para as devidas homenagens ao falecido e aos familiares.
Necrologias e Oração pelos Falecidos
Nos mosteiros irlandeses, no século VII, já encontramos rolos com os nomes de monges falecidos, que circulavam entre as comunidades, numa rústica forma de comunicação orante entre os religiosos. Para estes falecidos, era sempre dedicado algum ofício religioso solene. Dessa tradição surgiram as necrologias, listas de nomes lidas nos ofícios, e os obituários, lembrando serviços fundados ou obras de misericórdia dos defuntos em suas datas. Passou-se claramente das menções globais aos nomes individuais.
O Costume de Anotar Nomes de Falecidos
Nos séculos IX e X, no auge do período carolíngio, já é possível encontrar o costume de anotar nomes de falecidos para oferecimento de missas, mas ainda se mantinha a vinculação com o nome de vivos, que faziam suas ofertas generosas para a comunidade cristã. Os “libri memoriales” (Livros Memoriais) carolingianos continham de 15.000 a 40.000 nomes a serem lembrados. Durante as Eucaristias, chegava-se a enumerar de 40 a 50 nomes por dia!
A Comunhão dos Santos
Foi em Cluny, o renomado Mosteiro francês, que começou a surgir uma explicação da oração pelos mortos. À Igreja Peregrina, nos caminhos da história, unia-se a Igreja Triunfante (os santos e santas) e a Igreja Padecente (aqueles que, mesmo mortos, ainda não tinham alcançado a plenitude da Ressurreição). Esta união entre santos e pecadores, chamada de comunhão dos santos, já fazia parte da tradição cristã e foi teologicamente elaborada pelo mestre da escolástica, Santo Tomás de Aquino, nos seguintes termos: “Assim como no corpo natural a atividade de um membro se subordina ao bem-estar de todo o corpo, também no corpo espiritual que é a Igreja, acontece o mesmo. E porque todos os fiéis são um só corpo, o bem de um comunica-se ao outro.”
A Comemoração dos Mortos
Tudo indica que foi no século X que, a partir do mosteiro de Cluny, instituiu-se a comemoração dos mortos para o dia 2 de novembro, em íntimo contato com a festa de todos os santos. A Festa dos Mortos rapidamente se espalhou e é celebrada em todo o mundo cristão. Trata-se hoje de um dos feriados mais universais do nosso planeta.