Maternidade e Situações Estressantes no Primeiro Ano de Vida do Bebê
O nascimento de um filho é um evento que modifica a vida do casal, especialmente a da mãe, que comumente assume a maior parte das responsabilidades de cuidado do filho/a. Essas mudanças são ainda maiores no caso de mães primíparas. A reação da recém-mãe a essas mudanças é influenciada tanto por fatores individuais como ambientais. Entre eles, um dos mais importantes, que influencia o seu bem-estar, é o apoio que ela recebe daqueles que a rodeiam, principalmente do pai do bebê (Dunkel-Shetter, Sagrestano, Feldman & Killingsworth, 1996).
A maternidade e a paternidade se constituem em uma nova etapa do ciclo de vida familiar, o que tende a gerar estresse devido à adaptação necessária, em particular, durante os três primeiros meses de vida do bebê, quando as demandas tendem a ficar exacerbadas (Maldonado, 1990). Nesse sentido, pode haver uma maior solicitação de apoio social por parte da mãe durante esse período (Crockenberg, 1981; Crockenberg & McCluskey, 1986). Já a disponibilidade de apoio social contribui para facilitar a maternidade, principalmente sob condições estressantes, promovendo o desenvolvimento de um apego seguro bebê-mãe, além de afetar diretamente a criança, pelo contato dela com os membros dessa rede de apoio (Crockenberg, 1981). A possibilidade da mãe contar com pessoas que a auxiliem nessa nova fase e, principalmente, nos momentos difíceis, possibilita que esteja mais disponível afetiva e fisicamente para atender de forma adequada às demandas do bebê.
Diversos autores (Brazelton & Cramer, 1992; Stern, 1997; Winnicott, 1956) propuseram conceitos e teorias para explicar a transição para a maternidade. Por exemplo, Winnicott (1956) se referiu ao conceito de "preocupação materna primária" para explicar o que seria uma maternidade responsiva ou disponibilidade materna logo após o nascimento. Segundo o autor, caracteriza-se por um estado de sensibilidade aumentada da mãe, que permite que ela se identifique com seu bebê para saber o que ele está sentindo. Inicia no final da gravidez e persiste até algumas semanas após o nascimento.
Já Stern (1997) denominou constelação da maternidade a toda essa modificação e reorganização da vida, experimentadas pela mãe após o nascimento do bebê. Dentre os quatro temas destacados pelo autor como presentes na vida da mãe nesses primeiros meses após o nascimento do bebê (vida-crescimento, relacionamento primário, reorganização da identidade e matriz de apoio) destacamos aqui apenas o último deles, pela sua relevância ao presente artigo. O tema da matriz de apoio refere-se à necessidade da mãe de criar, permitir, aceitar e regular uma rede de apoio protetora para que possa manter o bebê vivo e promover seu desenvolvimento psíquico-afetivo. Apresentaria duas funções principais: proteger a mãe fisicamente e apoiá-la em termos psicológicos e educativos para que ela possa dedicar-se ao bebê. Tradicionalmente, segundo Stern, o apoio do marido restringia-se à tarefa de manutenção física da mulher, enquanto uma figura feminina ficava com a tarefa de apoiá-la e instruí-la em relação ao desempenho da função materna. Com a redução da família, em muitas sociedades, verifica-se atualmente a ampliação das funções atribuídas ao pai. De qualquer modo, para Stern, o principal envolvimento psicológico da mãe ainda ocorre com as figuras maternas de sua vida. Esse tema inclui também as representações da mãe sobre como as pessoas que a ajudam a veem como mãe e sobre sentir-se ameaçada de perder o amor do bebê para essa matriz de apoio.
A literatura tem ressaltado o caráter potencialmente conflituoso da experiência da maternidade como um fator de risco para a ocorrência de distúrbios mentais após o nascimento de um bebê (Rowan, Bick & Bastos, 2007). Nesse contexto de extrema dedicação da mãe à maternidade e ao bebê, o apoio de outras pessoas, como o pai do bebê, tem um papel relevante.
O apoio social diz respeito a uma rede de sistemas e de pessoas significativas que proporcionam apoio e reforço ao indivíduo diante das situações de vida (Brito & Koller, 1999). Simons e Johnson (1996) caracterizam a rede de apoio social como associada a manifestações de carinho e ao encorajamento e assistência provida por familiares, amigos, vizinhos, profissionais, etc. Este pode envolver uma ajuda emocional (expressões de conforto e cuidado), informacional (informações e orientações), ou instrumental (provisão de recursos, serviços e solução de problemas) que alguém recebe de contatos sociais formais ou informais (Dunkel-Shetter e cols., 1996; Pierce e cols., 1996).