Guerra rus'-bizantina de 970–971
A Guerra rus'-bizantina de 970–971 foi um conflito que se iniciou antes, em 967–968, travado na parte oriental dos Bálcãs e que envolveu a Rússia de Quieve, a Bulgária e o Império Bizantino. Os bizantinos instigaram o governante rus', Esvetoslau, a atacar a Bulgária, o que levou ao colapso do estado búlgaro e à ocupação da maior parte do território pelos rus'. Logo após a vitória, os próprios russos foram derrotados pelos bizantinos e tiveram que se retirar, deixando a Bulgária livre para ser incorporada ao Império Bizantino.
Em 927, um tratado de paz foi firmado entre a Bulgária e Bizâncio, iniciando um período de quarenta anos de paz após muitos de guerra. Ambos os estados prosperaram neste interlúdio, mas o balanço de poder foi gradualmente pendendo para os bizantinos, que avançaram territorialmente contra o Califado Abássida no oriente e conseguiram estabelecer um conjunto de alianças que efetivamente aprisionou a Bulgária. Em 965–66, o belicoso imperador Nicéforo II Focas (r. 963–969) recusou-se a renovar o tributo anual que era parte do tratado de paz e declarou guerra à Bulgária. Preocupado com suas campanhas no oriente, contudo, Nicéforo resolveu esta guerra por meio de um intermediário, convidando Esvetoslau a invadir seu inimigo.
A campanha subsequente de Esvetoslau superou em muito as expectativas dos bizantinos, que esperavam que a aliança fosse apenas um meio para pressionar os búlgaros. O príncipe rus' conquistou as regiões centrais do Império Búlgaro em 967–969, aprisionou o czar Bóris II e, através dele, governou o país. Esvetoslau pretendia continuar o avanço para o sul atacando o Império Bizantino também que, por sua vez, considerava a fundação de um novo e poderoso estado rus'-búlgaro nos Bálcãs uma ameaça. Após deter o avanço rus' pela Trácia na Batalha de Arcadiópolis em 970, o imperador João I Tzimisces liderou um exército rumo ao norte no ano seguinte e capturou Preslava, a capital búlgara. Após um cerco de três meses à fortaleza de Dorostolo, Esvetoslau concordou com os termos bizantinos e se retirou da Bulgária. Tzimisces formalmente anexou a Bulgária oriental ao Império Bizantino, mas o controle das regiões central e ocidental do país permaneceu efetivamente fora das mãos bizantinas; este fato levaria ao renascimento do estado búlgaro nesta região sob a dinastia dos cometópulos.
No início do século X, dois poderes haviam dominado os Bálcãs: o Império Bizantino, que controlava o sul da península e as regiões costeiras, e o Império Búlgaro, nas regiões centrais e norte. As primeiras décadas do século foram dominadas por Simeão I (r. 893–927), que, numa série de guerras, expandiu seu império às custas dos bizantinos e assegurou para si o título de "imperador". A morte de Simeão em maio de 927 foi seguida imediatamente de uma acomodação entre as duas potências, formalizada num tratado e numa aliança matrimonial. O segundo filho e sucessor de Simeão, Pedro I (r. 927–969), se casou com Irene Lecapena (chamada de Maria), a neta do imperador Romano I Lecapeno (r. 920–944), e seu título imperial foi também reconhecido. Um tributo anual (que os bizantinos, para manter as aparências, chamaram de "subsídio para sustentar Maria") seria então pago ao imperador búlgaro em troca da paz.
O acordo se manteve por quase quarenta anos, uma vez que as relações pacíficas eram benéficas a ambas as potências. A Bulgária, apesar da barreira formada pelo Danúbio, ainda era ameaçada em suas regiões setentrionais pelos povos das estepes: os magiares e os pechenegues. Eles lançavam raides por toda a Bulgária, chegando ocasionalmente ao território bizantino também. Ainda assim, a paz bizantino-búlgara significava menos problemas vindos do norte, pois muitos dos raides dos pechenegues eram patrocinados pelos bizantinos. O reinado de Pedro, mesmo sem o brilho militar de Simeão, foi uma era de ouro para a Bulgária, com uma economia em ascensão e uma vibrante sociedade urbana.
O Império Bizantino utilizou o período de paz para focar sua energia nas guerras contra o Califado Abássida no oriente, onde uma série de campanhas sob os generais João Curcuas e Nicéforo Focas expandiu muito o território imperial. Ao mesmo tempo, as reformas militares criaram um exército muito mais efetivo e ofensivamente orientado. Os bizantinos não negligenciaram os Bálcãs e trabalharam diligentemente para melhorar suas relações com os povos da Europa central e oriental, sutilmente alterando a balanço de poder na região: o porto bizantino de Quersoneso, na Crimeia, mantinha relações comerciais com os pechenegues e com a emergente Rússia de Quieve; missionários bizantinos levaram o cristianismo aos magiares; e os príncipes eslavos da região ocidental dos Bálcãs aceitaram finalmente a suserania imperial, particularmente após Tzéstlabo da Sérvia ter encerrado o controle búlgaro sobre a Sérvia. Estes relacionamentos com os poderes na periferia da Bulgária eram ativos importantes para a diplomacia bizantina, pois instigar ataques de vizinhos era uma estratégia clássica bizantina para pressionar os búlgaros.
Com a súbita morte do imperador Romano II Lecapeno em 963, Nicéforo Focas usurpou o trono dos filhos pequenos dele e se tornou imperador sênior como Nicéforo II Focas (r. 963–969). Um proeminente membro da aristocracia militar da Anatólia, principalmente no oriente, Nicéforo liderou pessoalmente as campanhas que recuperaram Chipre e a Cilícia. Quando uma embaixada búlgara apareceu em 965 para cobrar o tributo devido, Nicéforo, com sua confiança em alta por conta dos sucessos recentes — e considerando presunçosa a exigência búlgara; se recusou a pagar, alegando que a morte recente da imperatriz Maria (c. 963) havia encerrado a obrigação bizantina. Ele surrou os embaixadores e os enviou de volta com ameaças e insultos. Em seguida, marchou com suas tropas para a Trácia, realizou uma parada militar para demonstrar força e chegou a saquear algumas fortalezas fronteiriças búlgaras. A decisão de Nicéforo de efetivamente romper as relações com os búlgaros foi também uma resposta ao recente tratado assinado entre Pedro e os magiares, que estipulava que eles poderiam atravessar o território búlgaro para atacar o Império em troca de não mais atacarem a Bulgária.
Ansioso para evitar a guerra, o czar Pedro enviou seus dois filhos, Bóris II e Romano I, como reféns a Constantinopla. Nicéforo mesmo assim não se convenceu, mas não conseguiu — ou não quis — atacar a Bulgária diretamente, pois suas forças estavam ocupadas no oriente; além disso, tendo aprendido com os erros do passado, Nicéforo estava relutante em travar uma guerra na montanhosa e florestada Bulgária. Assim, ele se valeu do antigo expediente de chamar uma tribo da Europa setentrional para atacar a Bulgária. No final de 966 ou início de 967 ele despachou o patrício Calóciro, um cidadão de Quersoneso, como seu embaixador a Esvetoslau, governante da Rússia, um povo que há muito mantinha relações próximas com o Império e estava obrigado a ajudar os bizantinos pelos termos do tratado de 945. Prometendo ricas recompensas e, de acordo com Leão, o Diácono, um pagamento de 750 quilos de ouro, Esvetoslau foi convencido a atacar a Bulgária a partir do norte. A decisão de Nicéforo de contatar Esvetoslau foi pouco usual, pois os pechenegues eram a escolha tradicional para este tipo de tarefa.
