Expectativas e sentimentos da gestante em relação ao seu bebê
A relação que a mãe estabelece com o bebê imaginário permite que ela vivencie sua experiência passada de forma invertida. Isso inclui a vivência do surgimento do desejo de seus próprios pais por ela e, agora, dela por seu filho (Gianlupi, 2003; Polanco, 2000; Lester & Notman, 1988). O bebê imaginário adquire, assim, uma função reparadora (Gianlupi, 2003; Soulé, 1987; Polanco, 2000; Debray, 1988; Fraiberg et al., 1994), podendo representar um desejo narcísico por um objeto que repare feridas primitivas e restaure a autoestima dos pais (Lester & Notman, 1988).
Nesse contexto, a relação da mãe com o bebê imaginário é, antes de tudo, uma relação com o objeto – ou *objekt* (Freud, 1915/1969). Esse objeto não é necessariamente algo estranho, podendo ser, entre outras coisas, uma parte do corpo do indivíduo e sujeito a mudanças frequentes e inevitáveis ao longo da vida (Spitz, 1965/1987). Essa relação com o objeto reflete um investimento de representações (Brazelton, 1987). Portanto, não se pode ignorar a intervenção precoce das representações mentais no processo de investimento primitivo da mãe em relação ao bebê. Durante a gravidez, a gestante toma o bebê como objeto, o que lhe permite criar um bebê imaginário (Gianlupi, 2003; Polanco, 2000). Esse bebê imaginário é o destinatário da libido narcísica da mãe (Aulagnier, 1994), sendo um produto inicial do narcisismo materno.
O narcisismo ocorre quando a libido é retirada do mundo externo e direcionada ao ego (Freud, 1914/1969). Assim, uma pessoa pode amar narcisicamente o que ela é, o que foi, o que gostaria de ser, ou alguém que foi parte dela mesma, como um bebê. Quanto mais a libido é investida no ego (libido do ego), menos é investida no objeto (libido objetal), e vice-versa (Freud, 1914/1969). No caso da libido objetal, ela atinge sua expressão máxima no enamoramento, quando o indivíduo parece renunciar à própria personalidade em favor do objeto amoroso.
A relação da mãe com o bebê se desenvolve desde o período pré-natal, sendo influenciada pelas expectativas que ela nutre sobre ele e pela interação estabelecida. Essa primeira relação serve como prelúdio para a relação mãe-bebê após o nascimento. Este estudo teve como objetivo investigar as expectativas e os sentimentos das gestantes em relação ao bebê. Participaram 39 gestantes primíparas, no último trimestre de gestação, com idades entre 19 e 37 anos. As gestantes foram entrevistadas individualmente, e suas respostas foram analisadas por meio de análise de conteúdo.
Os resultados indicaram que as mães, desde a gestação, atribuem mais identidade ao bebê, expressando expectativas e sentimentos relacionados ao sexo, nome, características psicológicas e saúde, além de interagirem com ele. Esses processos parecem contribuir significativamente para a constituição psíquica do bebê e permitem o exercício inicial da maternidade.