Declínio contemporâneo da biodiversidade mundial
O declínio contemporâneo da biodiversidade mundial, um fenômeno que envolve a extinção ou significativa redução populacional de inúmeras espécies selvagens, bem como a destruição de ecossistemas em larga escala, em anos recentes tem sido especialmente dramático na longa história da degradação ambiental causada pelo homem.
Os efeitos danosos da ação humana sobre a vida natural são antigos. Começaram a surgir na pré-história, se aprofundaram a partir da consolidação das civilizações e continuam a se fazer notar com impacto crescente, em particular desde fins do séculos XIX, quando a industrialização se intensificou e a população do mundo começou a se expandir exponencialmente. De fato, as causas básicas para o declínio são a explosão demográfica, impondo cada vez maior pressão sobre os ambientes e os recursos naturais, e um modelo de civilização e desenvolvimento caracterizado pela insustentabilidade, explorando agressiva e abusivamente a natureza. Isso é a origem das causas imediatas para as perdas, entre as quais estão a degradação de ecossistemas, a caça e pesca predatórias, a poluição e outras perturbações, que agem interativamente potencializando seus efeitos.
A biodiversidade íntegra e sadia é a fonte dos serviços ambientais oferecidos pela natureza, e que são vitais para a sociedade humana em uma infinidade de maneiras — como por exemplo provendo sustento, fertilizando os solos e protegendo-os da erosão, purificando as águas e o ar, regulando as chuvas e o clima em geral, fornecendo energia e uma multiplicidade de outros materiais e substâncias úteis — sem os quais a vida humana seria impossível. Também muito amiúde animais e plantas carregam fortes associações espirituais, folclóricas, artísticas e éticas com o homem, que lhes atribuiu ou encontrou neles poderes, inteligência, beleza, e mesmo sabedoria, e os reproduziu em sua arte, os viu em seus sonhos e falou com eles, aprendendo mistérios, e até os adorou como deuses. Disso deriva que o declínio da biodiversidade deve necessariamente prejudicar, como já prejudica, as pessoas de todo o mundo, seja direta ou indiretamente, em termos econômicos, políticos, culturais e sociais, e representa uma das maiores ameaças ambientais que o mundo hoje enfrenta, comprometendo também o futuro das novas gerações.
Muitos programas e acordos internacionais, nacionais e regionais já foram lançados para tentar reverter esse quadro altamente preocupante, com destaque para o estabelecimento da Convenção sobre a Biodiversidade como o principal fórum internacional de debates científicos, técnicos e políticos de alto nível, mas tem sido pouco diante da gravidade do problema, que piora a cada dia, e que apenas em termos econômicos tem gerado prejuízos exorbitantes em escala global, que chegam à casa dos trilhões de dólares anuais. A despeito disso, das amplas e sólidas evidências científicas já acumuladas, e mesmo com a considerável publicidade que o tema vem ganhando, a sociedade em geral ainda não percebeu ou não compreendeu devidamente o valor da biodiversidade, não apenas para a natureza em si, mas também para a civilização. Se esta situação não mudar rápido, segundo advertem de modo enfático as maiores autoridades no assunto, em um período de tempo relativamente exíguo o mundo enfrentará uma crise de proporções gigantescas e nunca vistas, cujos primeiros sinais já são auto-evidentes, sem garantia de que poderá ser revertida.
No entanto, segundo as avaliações disponíveis, os custos do combate ao problema, mesmo em aparência altos, são pequenos em relação aos seus benefícios no longo prazo, e espera-se que o entendimento desta perspectiva possa estimular as instâncias oficiais e as comunidades em geral para que enfrentem juntas mais decididamente um desafio criado pelo próprio homem e que precisa de uma abordagem objetiva, honesta, vigorosa e imediata.