Ciência humana .
Vários assuntos da escrita científica e seus detalhes serão abordados nos capítulos seguintes; todavia, é importante ter em mente que nem todas as informações podem ser guardadas facilmente, e muitas delas não são utilizadas em todas as publicações científicas. Recomenda-se revisar as frases de cada segmento do artigo científico antes de concluir. Contudo, apenas adotar essas atitudes não é suficiente para garantir um trabalho científico, já que tais práticas podem interromper o progresso da produção.
Escrever de forma científica requer objetividade e impessoalidade, características bem diferentes das emoções humanas, como indignação ou enternecimento. Então, quando uma pessoa está verdadeiramente pronta para escrever um artigo científico? A resposta está no equilíbrio entre o conhecimento adquirido e a capacidade de transmitir informações de forma clara e objetiva.
Vida, Ciência e Mercado
Quanto à dimensão internacional, durante minha permanência no Brasil como professor visitante do Instituto de Estudos Avançados, encontrei várias informações relevantes. O próprio tema que estou abordando está presente tanto no debate científico-filosófico quanto nos noticiários. Gostaria de citar três exemplos. O primeiro está na revista Estudos Avançados, do Instituto, que em sua última edição publicou um discurso sobre as biotecnologias proferido por Frederico Mayor, diretor-geral da UNESCO, na Cumbre Iberoamericana de la Ciencia y Tecnología.
O discurso de Mayor trouxe ampla informação sobre as novas perspectivas abertas pela biotecnologia, especialmente no campo da saúde humana, criação de animais, plantações e desenvolvimento econômico. No entanto, dois aspectos do discurso geraram dúvidas. Primeiramente, as palavras de Mayor são um verdadeiro hino às capacidades das biotecnologias para resolver os problemas sociais do mundo. Apenas na última página surgem preocupações éticas, levantadas por cientistas e personalidades culturais e políticas, especialmente dos países desenvolvidos e do Terceiro Mundo.
Um exemplo dessa tendência acrítica está na afirmação de que a modificação do genoma permitirá a prevenção de doenças hereditárias, como diabetes, asma, alergias, reumatismos, Alzheimer, obesidade, doenças cardiovasculares e câncer. Essa afirmação contém uma imprecisão grosseira sobre as causas da mortalidade infantil. De fato, as causas genéticas representam uma pequena porcentagem, particularmente em países em desenvolvimento.
A redução da mortalidade infantil no século XX, de mais de 200 por 1000 nascimentos para menos de 10 por 1000 nos países desenvolvidos, não foi resultado de mudanças genéticas, mas de melhorias em condições sociais e de saúde. Isso prova que, embora fatores genéticos existam, eles não têm um papel exclusivo na origem de muitas doenças.