Autoritarismo
Autoritarismo é uma forma de governo que é caracterizada por obediência absoluta ou cega à autoridade, resultando em liberdade individual limitada e expectativa de obediência inquestionável da população.
O sociólogo espanhol Juan José Linz, cuja descrição de 1964 do autoritarismo é influente, caracterizou os regimes autoritários como sistemas políticos compostos por quatro fatores: (1) pluralismo político limitado e não responsável, ou seja, restrições sobre as instituições e grupos políticos (como legislaturas, partidos políticos e grupos de interesse); (2) legitimidade baseada na emoção, especialmente uma identificação do regime como um mal necessário para combater problemas sociais reconhecíveis, tais como o subdesenvolvimento ou uma insurgência; (3) a ausência de uma mobilização política intensa ou extensa e restrições sobre as massas (como táticas repressivas contra opositores e proibição de atividades anti-regime); e (4) um poder executivo formalmente mal definido, ausente e instável.
Distinção entre Autoritarismo e Totalitarismo
A distinção entre ditaduras autoritárias e ditaduras totalitárias foi criada por Hanna Arendt em seu livro As Origens do Totalitarismo. Segundo Arendt, existem características comuns em ambos os tipos de regimes:
- Subordinação dos poderes judiciário e legislativo ao poder executivo.
- Repressão a toda e qualquer política e ideológica ao governo.
Segundo Arendt, a diferença básica é que o autoritarismo tenta forçar o povo à apatia, à obediência passiva e à despolitização, enquanto o totalitarismo busca mobilizar a sociedade civil de cima para baixo, para moldá-la e impor ao povo uma obediência ativa e militante ao status quo, condicionada pela adesão à ideologia oficial do Estado. Arendt aponta, entre as diferenças, a prática autoritária da abolição de todos os partidos políticos e sindicatos, em contraste com a prática totalitária de um sistema de partido único e sindicato corporativista, comandado por um chefe carismático. Os exemplos reais de regimes totalitários identificados por Hanna Arendt são a Itália fascista, a Alemanha nazista e a Era Stálin na União Soviética.
Os modelos criados por Arendt são muito controversos e receberam várias críticas. Sua comparação entre o III Reich e o stalinismo soviético foi criticada por concentrar-se em aspectos superficiais, como o sistema de partido único e a "ideologia oficial", e ignorar os aspectos econômicos, culturais, jurídicos e políticos que diferenciavam os dois regimes. Entre estas diferenças, há destaque para a ideologia racista, eugênia e colonialista da ditadura nazista, em contraste com as instituições do Estado multinacional da União Soviética. Outro contraste importante é a defesa da propriedade privada capitalista pelos nazistas e fascistas, em contraste com o socialismo oficial do Estado soviético.
A insistência de Arendt em fazer analogias entre o fascismo e o stalinismo soviético foi acusada de expressar um apoio implícito aos Estados Unidos na Guerra Fria. Henry Kissinger, importante líder e teórico do neoconservadorismo, recorreu à distinção entre autoritarismo e totalitarismo para justificar o apoio financeiro e militar do governo dos Estados Unidos às ditaduras de extrema-direita na América Latina, África, Ásia e Europa, acusando governos como os de Salvador Allende, Fidel Castro e Daniel Ortega de líderes totalitários.
Giorgio Agamben, em Homo sacer e Estado de exceção, reconstrói a teoria do totalitarismo a partir do resgate da categoria de Homo sacer, figura do Direito Romano antigo, caracterizada como excluída da comunidade humana. A peculiaridade do Homo sacer é que ele pode ser morto ou agredido impunemente, embora não possa ser sacrificado em rituais. Segundo Agamben, o judeu sob o regime nazista e aprisionado em um campo de concentração é o arquétipo do moderno Homo sacer. Mas o risco de tornar-se um Homo sacer é universal, e Agamben aponta, entre os exemplos desta categoria na atualidade, os prisioneiros da base militar estadunidense de Guantánamo.