Artigos científicos do corpo humano.
Vários assuntos da escrita científica e seus detalhes serão abordados nos capítulos seguintes; todavia, pode ser guardado na mente, nem tampouco, é utilizado em todas as publicações científicas. Frases de cada segmento de seu artigo científico e só depois dê uma olhadinha. Todavia, sozinhas, essas atitudes não são científicas, pois estancam o progresso da produção e da indignação ao enternecimento – bem diferente da objetividade e impessoalidade da redação científica. Quando é que se está pronto para escrever um artigo científico?
Vida, Ciência e Mercado
Quanto a essa dimensão internacional, encontrei várias informações nestas semanas de permanência no Brasil, como professor visitante do Instituto de Estudos Avançados. O próprio tema de que hoje estou tratando, em particular, está presente, sob várias formas, não só no debate científico-filosófico, mas também nos noticiários do país. Gostaria de citar três exemplos. O primeiro está justamente em Estudos Avançados, a revista deste Instituto, que em seu último número publicou o discurso sobre as biotecnologias, proferido por Frederico Mayor, diretor-geral da UNESCO, na Cumbre Iberoamericana de la Ciencia y Tecnología (Mayor, 1992:7-28).
Nesse discurso, há vasta informação sobre as perspectivas abertas pela biotecnologia referente à saúde humana, criação de animais, plantações e desenvolvimento econômico. Confesso, porém, que há nesse discurso dois aspectos que me causaram dúvidas. Um deles é que as palavras de Frederico Mayor são, acima de tudo, um hino às capacidades das biotecnologias para a solução dos problemas sociais do mundo. Numa única página, ao final do texto, aparecem as preocupações e os problemas éticos levantados por cientistas, personalidades culturais e políticas dos países desenvolvidos, e mais ainda do Terceiro Mundo.
O exemplo mais evidente dessa tendência acrítica é a certeza, manifestada pelo autor (p.25-26), de que a modificação do genoma pode permitir a prevenção das "doenças hereditárias (causantes de 30% da mortalidade infantil) e das dolências em que a herança tem um papel importante, como a diabetes, o asma, as alergias, os reumatismos, a doença de Alzheimer, a obesidade, as doenças cardiovasculares e os cânceres". Essa frase contém uma inexatidão grosseira, devida a quem forneceu ao Sr. Mayor os dados sobre a mortalidade infantil. De fato, as causas genéticas desse fenômeno ficam muito longe dos 30%, até mesmo em países desenvolvidos, e no Terceiro Mundo, nem chegam a 3%.
Mas a frase contém ainda séria deformação cultural, uma acentuação de fatores genéticos, que certamente existem, mas não têm papel exclusivo na origem de doenças como as reumáticas e cardiovasculares, ou de condições como a obesidade. Uma prova ex iuvantibus (decorrente das melhoras) é que o índice de mortalidade infantil decresceu, neste século, de mais de 200 a cada 1000 nascimentos, para 100 ou 50, em quase todos os países do mundo, chegando a menos de 10 por 1000 naqueles mais desenvolvidos. Isso, sem que haja mudado a constituição genética da humanidade; o que mudou, onde quer que se tenha progredido, foram as condições sociais e ambientais.