Édouard Manet: Vida e Obra
Édouard Manet (Paris, 23 de janeiro de 1832 — Paris, 30 de abril de 1883) foi um pintor e artista gráfico francês, considerado uma das figuras mais importantes da arte do século XIX. É reconhecido como um dos principais representantes do impressionismo francês, embora muitas de suas obras apresentem fortes características do realismo.
Estilo e Contribuições
Manet preferia explorar os jogos de luz e sombra, restituindo ao nu sua crueza e verdade, em contraste com os nus idealizados da época. O trabalho das texturas é apenas sugerido, e as formas são simplificadas. Seus temas deixaram de ser impessoais ou alegóricos, passando a traduzir a vida cotidiana da época. Em certos quadros, ele seguia a estética naturalista de Zola e Maupassant.
Era frequentemente criticado não apenas pelos temas abordados, mas também por sua técnica que escapava às convenções acadêmicas. Inspirado por mestres clássicos, especialmente pelos espanhóis do Século de Ouro, Manet influenciou alguns precursores do impressionismo devido à pureza de sua abordagem. Essa liberação das associações literárias tradicionais com a pintura lhe garantiu um lugar como um dos fundadores da arte moderna. Entre suas principais obras estão: Almoço na relva ou Almoço no Campo, Olímpia, A Sacada, O Tocador de Pífaro e A Execução de Maximiliano.
A obra A Primavera, de 1881, foi vendida em novembro de 2014 por US$ 65,13 milhões em um leilão em Nova York, estabelecendo um recorde de preço para uma obra do impressionista.
Primeiros Anos
Manet nasceu em Paris em 23 de janeiro de 1832. Seu pai, Auguste, era um alto funcionário do Ministério da Justiça, descendente de uma ilustre família burguesa. Sua mãe, cujo sobrenome de solteira era Fournier, era filha de um diplomata francês na Suécia. Manet tinha dois irmãos mais novos: Eugène e Gustave. Apesar da educação austera, ele descobriu o mundo artístico graças a um tio, o capitão Édouard Fournier, que levava Manet e seu irmão Eugène a galerias do Museu do Louvre para admirar os grandes mestres.
Aos 12 anos, foi enviado ao colégio Rollin (hoje liceu Jacques Decour), perto de Montmartre. Na escola, apresentou desempenho decepcionante: era pouco aplicado e algo insolente.
Devido aos maus resultados, a família repensou as ambições para o filho primogênito, desejando que Manet estudasse direito. No entanto, cientes de que ele não tinha vocação para uma carreira jurídica, seus pais não se opuseram ao seu desejo de se tornar marinheiro. Após uma primeira tentativa frustrada de entrar na Escola Naval, Édouard embarcou no barco-escola Havre et Guadeloupe rumo ao Brasil como simples marinheiro. Essa experiência, embora não tenha confirmado sua vocação para a marinha, proporcionou-lhe grande vivência. No Brasil, ele desenvolveu um gosto pelo exótico e pelas mulheres, além de uma repulsa ao escravismo. A luminosidade da baía de Guanabara deixou marcas em sua maneira de pintar. Retornou à França em junho de 1849, mas falhou novamente ao tentar entrar na Escola Naval.
Estudos de Arte
Após as tentativas frustradas de entrar para a Escola Naval, Manet recebeu apoio dos pais para estudar no ateliê do pintor Thomas Couture, onde permaneceu por seis anos. Couture, que tinha um estilo acadêmico, havia estudado na École des Beaux-Arts de Paris e é conhecido por obras como Os Romanos e A Decadência.
Durante esse período, Manet buscou aprender as bases técnicas da pintura e fez cópias de obras no Louvre, incluindo trabalhos de Ticiano, Velázquez, Tintoretto e Delacroix. Ele completou seu aprendizado viajando e conhecendo museus de diversos países europeus, como Itália, Países Baixos, Alemanha e Áustria. Durante uma viagem à Itália, Manet copiou Vênus de Urbino, de Ticiano, que o inspirou a criar Olímpia anos depois.
Em 1852, Manet teve um filho ilegítimo com Suzanne Leenhoff, uma professora de piano de origem holandesa. O pai de Manet se opôs ao casamento, que só aconteceu após sua morte.
No ano de 1856, Manet deixou o ateliê de Couture devido a divergências artísticas. Couture acreditava que Manet não utilizava tons intermediários entre luz e sombra, enquanto Manet considerava que esses tons debilitavam a intensidade da luz e da sombra, optando por cores quase puras.
Período Hispânico
Em 1859, Manet enviou seu primeiro trabalho ao Salão de Paris: O Bebedor de Absinto, uma obra realista influenciada por Gustave Courbet e pela obra Menippe, de Diego Velázquez. O trabalho foi recusado pelo Salão, que ainda não estava aberto a novas ideias. A imagem do bebedor reapareceria em outra obra de Manet, O Velho Músico, de 1862.
Após deixar o ateliê de Couture, Manet desenvolveu um fascínio pela arte da Península Ibérica. Entre suas obras dessa época estão: Lola de Valência (que retrata uma dançarina em trajes espanhóis tradicionais), O Cantor Espanhol, Jovem Homem em Costume de Majo, Bailado Espanhol e Mile V. em Costume de Espada (com Victorine Meurent vestida de toureiro). Os dois últimos foram expostos no Salão dos Recusados de 1863. Seu período hispânico foi influenciado pelas obras de Diego Velázquez.
Victorine Meurent teve um papel importante na obra de Manet; ele a conheceu durante os estudos com Couture e ela se tornou uma modelo frequente. O quadro O Cantor Espanhol foi seu primeiro trabalho exposto ao Salão de Paris em 1861, junto com Retrato do Sr. e Sra. Auguste Manet. O Cantor Espanhol destacou-se pela vivacidade das cores e recebeu menção honrosa, enquanto o retrato de seus pais era uma obra mais clássica. Sua última obra sob influência espanhola, O Homem Morto, de 1864, originalmente chamada Incidente na Tourada, foi dividida em partes devido à crueldade da cena e recebeu o nome O Homem Morto.